Confisco das Poupanças de Collor: O Caos Econômico que Mudou o Brasil

Confisco das Poupanças de Collor: O Caos Econômico que Mudou o Brasil abr, 25 2025

A medida radical de Collor: o confisco das poupanças em 1990

No começo de 1990, a economia brasileira estava completamente fora de controle. A hiperinflação corria solta, corroendo salários e tornando qualquer planejamento impossível. Nesse cenário, Fernando Collor chegou à presidência com a promessa de estabilizar a moeda e dar um rumo ao país. O que ninguém esperava era a ousadia da estratégia: Collor decidiu congelar todas as cadernetas de poupança e contas-correntes acima de 50 mil cruzeiros. Praticamente todo mundo, de uma hora para outra, ficou sem acesso ao próprio dinheiro.

Para quem tinha algum dinheiro guardado, foi um choque. Imagine abrir seu extrato no banco e ver seu saldo bloqueado, sem previsão de quando a situação se normalizaria. O objetivo de Collor era simples no papel: retirar dinheiro da praça, esfriar a economia e tentar cortar o mal da hiperinflação pela raiz. Mas, na prática, a medida gerou pânico, filas nos bancos e um mal-estar social sem precedentes.

A Bolsa de Valores despencou 22% em um único dia. Empresas tiveram que suspender planos, demitir funcionários e renegociar dívidas. O país estava paralisado. A população, já traumatizada por anos de planos econômicos fracassados, agora olhava com desconfiança para qualquer promessa do governo. Mesmo a queda inicial da inflação — que ficou em 7,5% em maio de 1990 — não foi suficiente para trazer alívio real. Poucos meses depois, a inflação já avançava para os dois dígitos novamente.

Desconfiança, ineficácia e as consequências políticas

Desconfiança, ineficácia e as consequências políticas

O plano de Collor mergulhou o Brasil numa crise de credibilidade. As pessoas deixaram de confiar nos bancos e no governo, começaram a buscar alternativas para proteger seu dinheiro e a cultura da indexação — reajuste automático de preços e salários — só se fortaleceu. Os mecanismos financeiros do país eram frágeis e os instrumentos de controle monetário, escassos. Como apontam especialistas como Leandro Torelli e Weller, da FGV, o país havia herdado de Sarney uma economia instável e sem bases sólidas para a superação da inflação crônica.

Boa parte do desastre do confisco das poupanças está ligada à incapacidade do governo de enfrentar o problema estrutural da indexação. Mesmo com o dinheiro dos brasileiros paralisado, preços e contratos continuavam sendo corrigidos automaticamente, minando os efeitos da redução de liquidez. No fim das contas, o povo perdeu a confiança e Collor, a força política.

  • O Produto Interno Bruto (PIB) desabou 4,35% em 1990, afetando diretamente empresas e empregos.
  • Os índices de aprovação do presidente entraram em queda livre, impulsionados pelo sentimento de injustiça e insegurança.
  • O país viveu um dos momentos de maior descontentamento popular recente — e as cicatrizes dessa desconfiança ainda ecoam no modo como o brasileiro lida com bancos e governos.

Para Collor, não bastou o fracasso econômico. As denúncias de corrupção fecharam o cerco e, em 1992, ele foi afastado da presidência no primeiro processo de impeachment do Brasil. O episódio deixou uma lição dura para os brasileiros: planos de choque sem diálogo e sustentação técnica podem causar estragos que duram décadas.