Quando Berta Loran, atriz e comediante faleceu no dia 28 de setembro de 2025, o Brasil perdeu uma das vozes mais persistentes do humor televisivo. O falecimento ocorreu em Rio de Janeiro, onde a artista vivia há décadas, e a notícia rapidamente se espalhou pelos meios de comunicação, despertando recordações de personagens que atravessaram gerações.
A trajetória de Berta Loran
Nascia como Basza Ajs, em 23 de março de 1926, em Varsóvia, na Polônia. Ainda criança, viu sua família fugir da perseguição nazista em 1939, chegando ao Brasil pouco antes da invasão alemã. Naturalizada, Berta encontrou na comunidade judaica de São Paulo o primeiro palco: clubes onde, incentivada pelo pai — ator e alfaiate —, começou a encenar pequenos números de sapateado.
Primeiros passos no Brasil
Aos 20 anos, já casada, instalou‑se definitivamente no Rio de Janeiro, cidade que seria o cenário de sua longa carreira. A estreia no cinema brasileiro veio em 1955, com Sinfonia Carioca, dirigido por Watson Macedo, inserida na era das chanchadas. Em sequência, participou de Papai Fanfarrão e Garotas e Samba, ambas sob a direção de Carlos Manga. Esses papéis ajudaram a consolidar seu nome nos bastidores da indústria.
Carreira na TV Globo
Em 1966, a convite de Boni, Berta ingressou na TV Globo, começando pelo programa Bairro Feliz, dirigido por Max Nunes e Haroldo Barbosa. Na emissora, ela participou de sucessos como Balança Mas Não Cai (1968), Faça Humor, Não Faça Guerra (1970‑1973) e Satiricon (1974‑1975). Cada produção trouxe novos personagens, mas foi na Escolinha do Professor Raimundo — programa de humor criado por Chico Anysio — que Berta encontrou seu papel mais duradouro.
Personagens que marcaram gerações
A imigrante portuguesa Manuela D'Além Mar, a judia Sara Rebeca e a portuguesa Maria foram algumas das faces que Berta deu vida na Escolinha. Cada personagem tinha um sotaque, um jeito de falar, uma crítica sutil ao cotidiano brasileiro. O público lembrava, sobretudo, da frase “Eu não digo, eu mostro” dita por Manuela, que virou bordão nacional. Outro personagem icônico foi Frosina, a empregada de Amor com Amor Se Paga, que garantiu risos nas noites de domingo.
Últimos trabalhos e reconhecimento
Mesmo depois dos 80 anos, Berta continuou nas telas. Em 2009, fez sua última aparição na novela A Dona do Pedaço, escrita por Walcyr Carrasco, interpretando Dinorá Macondo, mãe do personagem Juninho, vivenciado por Marco Nanini. Ao longo de sete décadas, a artista encarnou mais de 2 000 personagens, atravessando gerações e mantendo viva a tradição do humor crítico e afetivo.
Legado e impacto cultural
Além do talento, Berta representou a história de quem sobrevive ao Holocausto e refaz uma vida na terra que lhe deu asilo. Sua filosofia — "o humor é a melhor arma contra o medo" — inspirou atores, roteiristas e até políticos que, ao lembrar de seu legado, citam seu exemplo de resiliência. Críticos de TV apontam que sua passagem marcou o fim de uma era de comédia “clássica” na TV brasileira, substituída por formatos mais rápidos e digitais.
Próximos passos para a memória de Berta Loran
Em homenagem, a Fundação Cultural da Cidade do Rio planeja organizar uma mostruário de objetos pessoais, vídeos inéditos e um ciclo de debates sobre a imigração e a arte. Além disso, a própria TV Globo anunciou a criação de um prêmio anual – Prêmio Berta Loran de Humor – para reconhecer talentos emergentes que mantenham viva a tradição do humor inteligente.
Frequently Asked Questions
Qual foi o impacto da morte de Berta Loran na TV brasileira?
A morte de Berta Loran representa o fim de uma era de comédia tradicional na TV aberta. Programas que se inspiravam em seu estilo de humor de crítica social e personagens caricatos têm buscado reavaliar seu formato, e muitos produtores já citaram a necessidade de preservar seu legado através de novos projetos e homenagens.
Quais personagens de Berta Loran ainda são lembrados pelo público?
Os personagens mais lembrados são a portuguesa Manuela D'Além Mar da Escolinha do Professor Raimundo, a judia Sara Rebeca e a empregada Frosina de Amor com Amor Se Paga. Cada um trouxe frases e gestos que se tornaram parte do vocabulário popular brasileiro.
Como a trajetória de Berta Loran se relaciona com a história da imigração no Brasil?
Chegando ao Brasil aos 9 anos como refugiada judia, Berta transformou sua experiência de deslocamento em arte. Seu humor refletia, de forma sutil, as dificuldades de adaptação e o multiculturalismo que caracteriza a sociedade brasileira, servindo de ponte entre diferentes gerações de imigrantes.
Quem são os principais colegas que comentaram a morte de Berta?
Atores como Agildo Ribeiro e diretores da TV Globo lembraram seu profissionalismo e generosidade. A apresentadora Ana Maria Braga também homenageou, ressaltando a importância da artista para o humor nacional.
O que vem aí para preservar a memória de Berta Loran?
Além da exposição da Fundação Cultural da Cidade do Rio, a TV Globo criará o Prêmio Berta Loran de Humor, destinado a novos talentos que mantenham viva a tradição do humor crítico e inclusivo que a artista defendeu ao longo da vida.
Silas Lima
setembro 29, 2025 AT 21:21É lamentável que, em pleno século XXI, ainda percamos figuras como Berta Loran, que dedicou sua vida a criticar as mazelas da sociedade com humor. Sua partida nos lembra que o riso ainda é resistência.
Bruno Boulandet
outubro 4, 2025 AT 12:28Verdade, Silas. Berta mostrou que a arte pode ser um escudo contra o preconceito, e ainda assim trazia leveza pros momentos difíceis. Saca aí, não tem como negar o impacto dela.
Luara Vieira
outubro 9, 2025 AT 03:35O humor de Berta sempre carregou uma filosofia sutil: rir das injustiças sem jamais perder a empatia. Cada piada era um convite à reflexão, um lembrete de que a dignidade humana pode ser defendida com leveza. Essa combinação de crítica e carinho ainda reverbera nas novas gerações de comediantes.
Raphael D'Antona
outubro 13, 2025 AT 18:41Não é à toa que a mídia faz um bambo de tudo que sai, inclusive da morte de uma humorista. Sempre tem alguém querendo lucrar com a dor alheia, enquanto as verdadeiras histórias ficam escondidas.
Eduardo Chagas
outubro 18, 2025 AT 09:48Mas parceirão, quem fala assim só quer cortar a fala pra si! Berta foi luz, não mercado de sensacionalismo. Quando alguém tenta manipular seu legado, eu vejo a verdade sendo pisoteada!
Mário Eduardo
outubro 23, 2025 AT 00:55A plateia parece hipnotizada por um mito, mas Berta era só mais uma peça numa indústria que fabrica ícones para vender produtos. Se analisarmos o contexto, percebe‑se que o suposto ‘respeito’ é apenas propaganda.
Thaty Dantas
outubro 27, 2025 AT 16:01Será que a nova geração realmente entende o peso cultural de Berta Loran?
Davi Silva
novembro 1, 2025 AT 07:08Berta Loran nasceu como Basza Ajs em 1926, numa Polônia que ainda não imaginava o futuro que teria que enfrentar.
Sobreviveu ao Holocausto e, ainda criança, foi jogada em um barco rumo ao Brasil, carregando apenas a esperança de uma vida melhor.
No Rio, encontrou nos clubes de São Paulo um palco improvisado onde aprendeu a usar o humor como ferramenta de sobrevivência.
Seu talento natural a levou para o cinema em 1955, iniciando uma carreira que atravessaria sete décadas.
Na TV Globo, ela se destacou em programas como “Faça Humor, Não Faça Guerra”, trazendo críticas sociais disfarçadas de piadas.
O personagem Manuela D'Além Mar, da Escolinha do Professor Raimundo, se tornou ícone nacional, com o bordão “Eu não digo, eu mostro”.
Cada personagem que Berta interpretou carregava um sotaque, uma história e uma crítica velada à realidade brasileira.
Mesmo depois dos 80 anos, ela continuou atuando, demonstrando que a idade não é barreira para a criatividade.
Seu lema “o humor é a melhor arma contra o medo” inspirou gerações de comediantes, roteiristas e até políticos.
A homenagem da Fundação Cultural da Cidade do Rio reforça a importância de preservar artefatos que contam a história da imigração.
O Prêmio Berta Loran de Humor, criado pela TV Globo, promete incentivar novos talentos a seguir a mesma linha de pensamento crítico.
Em um mundo cada vez mais digital, seu estilo clássico lembra a todos que a essência do riso está na conexão humana.
A perda de Berta deixa um vazio, mas também um legado que deve ser estudado e celebrado nas universidades de comunicação.
Seu percurso mostra que a arte pode ser resistência, resistência que atravessa fronteiras e gerações.
Que nunca nos esqueçamos de que o riso, mesmo nas horas mais sombrias, tem o poder de transformar realidades.
Leonardo Teixeira
novembro 5, 2025 AT 22:15Essa devoção exagerada à Berta só mostra o quanto a cultura pop está obcecada por ídolos; 😒
Marcelo Paulo Noguchi
novembro 10, 2025 AT 13:21Em consonância com os preceitos da comunicação institucional, cumpre salientar que a memória de Berta Loran representa um paradigma de convergência entre tradição humorística e inovação sociocultural, de modo a propiciar sinergias intergeracionais.