A série Tremembé, estreada em 31 de outubro de 2025 na Prime Video, não apenas conquistou o topo das listas de mais assistidas no Brasil — ela também reacendeu uma pergunta incômoda: onde estão os verdadeiros criminosos que serviram de inspiração? A produção, criada pela Amazon Studios com Vera Egito como showrunner e baseada nos livros do jornalista Ulisses Campbell, não é um documentário. Mas, ao misturar nomes reais com personagens fictícios, fez o público se perguntar: o que aconteceu com eles depois das câmeras saíram da prisão?
Uma prisão que virou palco da fama
A Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, conhecida como "presídio dos famosos" por abrigar alguns dos criminosos mais notórios do Brasil, nunca foi tão discutida. Localizada no interior de São Paulo, a unidade prisional passou a ser sinônimo de paradoxos: um lugar de punição, mas também de reconstrução, onde ex-convictos como Suzane von Richthofen frequentam aulas de Direito e têm filhos recém-nascidos. A série, com Marina Ruy Barbosa no papel principal, retrata a vida dentro dos muros com um tom dramático, mas a realidade é ainda mais complexa.Quem ainda está preso? Os casos que não têm escape
Entre os nomes retratados, apenas dois permanecem atrás das grades: Roger Abdelmassih e Lindemberg Alves. O ex-médico, condenado a 181 anos por estuprar pacientes em consultórios, teve todos os pedidos de detenção domiciliar negados. A Justiça considera seu risco de reincidência extremo. Seu primeiro dia de liberdade, caso tudo ocorra conforme a lei, será em 2047 — quando ele terá 104 anos. Ninguém espera que ele saia vivo. Já Lindemberg, condenado por torturar e matar a ex-namorada Eloá Pimentel em 2008, teve sua pena reduzida em 109 dias em março de 2025. Mas a liberdade condicional que ganhou em 2023 foi revogada após uma nova análise da Justiça. Hoje, ele só tem direito a saídas temporárias anuais. Sua situação é um espelho da ambiguidade do sistema: punido, mas não esquecido. A cada liberação, a sociedade se divide — uns pedem mais rigor, outros defendem o direito à reinserção.Os que saíram: vida após a prisão
Enquanto isso, outros nomes da série já estão livres — e vivendo entre o anonimato e a curiosidade pública. Suzane von Richthofen, que cumpriu 23 anos por ordenar o assassinato dos pais em 2002, está em liberdade condicional desde 2023. Casada com o médico Felipe Zecchini Muniz, mãe de um menino nascido em janeiro de 2024, ela estuda Direito pela manhã em uma universidade particular no interior de São Paulo. Fotos dela nas aulas vazam nas redes — e geram indignação e compaixão em igual medida. Os irmãos Cristian e Daniel Cravinhos, que executaram os assassinatos por ordem de Suzane, também estão em liberdade condicional desde 2023. Ambos evitam entrevistas, mas são vistos ocasionalmente em bairros residenciais de São Paulo, sem identificação. O mesmo vale para Elize Matsunaga, que esquartejou o marido em 2010 — hoje ela vive sob vigilância eletrônica e trabalha como assistente administrativa em uma clínica, segundo fontes da Secretaria de Administração Penitenciária. Outros nomes da lista incluem Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, condenados pela morte da pequena Isabella Nardoni em 2008. Eles também estão em liberdade condicional desde 2023, mas não são vistos em público. A família da vítima ainda pede justiça — e a série trouxe o caso de volta à tona.
Quem já saiu — e o que isso significa
O ex-prefeito Acir Fillo, condenado por lavagem de dinheiro, foi libertado em agosto de 2025 após cumprir quase nove anos. Ele agora vive em silêncio, sem declarações públicas. Já Robinho, o ex-jogador de futebol, continua preso na mesma unidade, cumprindo pena de nove anos por estupro coletivo — um caso que, apesar da fama, não foi incluído na série. E Ronnie Lessa, suspeito de participar do assassinato de Marielle Franco, está preso em outra unidade, mas sua ligação com Tremembé é histórica: ele foi transferido para lá em 2022, antes de ser movido para o sistema de segurança máxima. A série não inventou nada. O escritor Ulisses Campbell garante: "As coisas mais absurdas da série realmente aconteceram." E isso é o que assusta. Não é a ficção que choca — é a realidade.O que a série revelou sobre o sistema prisional
O impacto de Tremembé vai além das visualizações. Ela expôs como o sistema brasileiro lida com criminosos de alto perfil: alguns são esquecidos, outros são transformados em ícones. A liberdade condicional, que deveria ser um passo para a reinserção, muitas vezes vira um limbo. Ninguém sabe exatamente o que essas pessoas fazem, onde vivem, se realmente se arrependeram. A sociedade quer justiça, mas também quer saber — e às vezes, só quer ver. A Justiça brasileira, por sua vez, parece dividida. Enquanto alguns juízes concedem liberdade com base em comportamento e reabilitação, outros insistem que crimes como os de Suzane ou Elize merecem prisão perpétua. A ausência de um programa nacional de reinserção torna tudo mais incerto. O que acontece quando um assassino se torna um estudante? Quando uma mulher que matou o marido vira mãe? A série não responde. Mas ela faz a pergunta — e isso já é um começo.
Quais são os próximos passos?
Em 2026, a Justiça deve analisar novos pedidos de progressão de regime para outros presos da série. Além disso, o Ministério da Justiça está avaliando a criação de um protocolo específico para ex-presidiários de alta visibilidade — algo que nunca existiu. O debate está apenas começando.Frequently Asked Questions
Como Suzane von Richthofen conseguiu sair da prisão tão cedo?
Suzane cumpriu 23 anos de uma pena de 34 anos, e teve sua progressão de regime aprovada por avaliação psicológica e comportamental, conforme a legislação brasileira. Ela participou de programas de reeducação, não teve faltas graves e demonstrou arrependimento em audiências. A Justiça considerou que ela não representa mais risco à sociedade, mas sua liberdade é condicional e sujeita a monitoramento.
Por que Roger Abdelmassih ainda está preso, se outros saíram?
Roger foi condenado a 181 anos por estuprar dezenas de pacientes, e a Justiça entende que ele representa risco contínuo à integridade física e emocional de mulheres. Seus pedidos de detenção domiciliar foram rejeitados por especialistas que o classificam como um predador sexual crônico. A lei permite progressão, mas não obriga — e o sistema optou por manter sua prisão integral.
A série distorce a realidade dos crimes?
Não. O roteiro se baseou em processos reais, depoimentos públicos e arquivos do Ministério Público. Os nomes foram trocados para proteger identidades e evitar glamourização, mas os fatos — como o esquartejamento de Elize, o plano de Suzane e a crueldade de Lindemberg — são fiéis. A ficção está apenas na dramatização, não na veracidade.
O que acontece com esses ex-presidiários depois da liberdade?
Eles vivem sob monitoramento eletrônico, restrições de localização e proibição de contato com vítimas ou familiares. Muitos mudam de nome, se mudam para cidades pequenas e tentam se reinserir no mercado de trabalho. Mas o estigma é enorme. Alguns conseguem empregos informais; outros, como Suzane, estudam. Poucos são aceitos pela sociedade — e quase todos vivem em silêncio.
A série pode influenciar decisões judiciais futuras?
Sim. A pressão pública gerada por Tremembé já levou a pedidos de revisão de regime em outros casos. Juízes e promotores estão sendo questionados mais frequentemente sobre por que alguns presos saem e outros não. A série não mudou a lei, mas mudou o debate — e isso pode levar a reformas na política de reinserção.
Cristiane L
novembro 6, 2025 AT 04:59Eu não consigo entender como alguém que matou os próprios pais pode estudar Direito e virar mãe. A sociedade tá tão confusa que nem sabe mais o que é justiça.
Se ela tivesse feito isso com alguém que não fosse rico, nem falaria disso. É tudo uma performance.
Eu não sou a favor da prisão perpétua, mas esse caso é diferente. Ela planejou tudo. Não foi impulso. Foi frieza.
E agora ela tá lá, com um filho, estudando? Sério?
Quem garante que ela não vai fazer de novo? A psicologia não é uma bola de cristal.
A série só mostrou a ponta do iceberg. Tem muito mais por trás das câmeras.
Eu não quero que ela sofra, mas também não quero que ela viva como se nada tivesse acontecido.
É fácil falar de reinserção quando você não é a vítima.
Se ela tivesse matado um pobre, estaria ainda presa. E isso é o problema real.
Não é sobre ela. É sobre quem tem direito a um segundo chance e quem não tem.
E isso é classista. É racista. É tudo isso junto.
Eu não tenho resposta. Só dói pensar que a justiça escolhe quem perdoa.
Isso aqui não é redenção. É privilege.
É só isso.